Olhei-a novamente e decidida a consola-la abri minha boca para falar, como que por coincidência a garota repetiu meu gesto no mesmo instante, talvez ela quisesse se abrir e então recuei para permiti-la falar, mas, ela fez o mesmo. Voltamos então a nos olhar curiosamente como se uma pudesse "ler" a outra...
Dor, mágoa, raiva, solidão... Aquela garota se sentia tão só, tão desprotegida, tão vulnerável ao mundo... Quase nitidamente pude ouvi-la em seus pensamentos dizer que seu anjo a abandonara e que tudo no mundo a amedrontava pois ninguém mais a protegia...
Baixei minha cabeça e quando levantei pude ver lágrimas percorrerem seu rosto, comovida notei que também estava a chorar. Consolidada com a garota direcionei-me a ela para enxugar suas lágrimas, ela pareceu querer fazer o mesmo, porque enquanto me direcionava a ela, ela se direcionava a mim. Estendi minha mão para enxugar suas lágrimas e então percebi porque ela era tão familiar e porque seus pensamentos me eram audíveis e suas dores eu podia ver... Aquela garota era apenas minha imagem refletida no espelho, a imagem de um eu que eu sempre havia me negado a enxergar. Cai de joelhos perante aquele espelho e chorei, jamais pensei que algo assim me aconteceria, lembrei de todos os planos e sonhos que permiti que minhas dores destruissem, lembrei do sorriso e da esperança que faziam parte da minha vida, senti saudades do tempo em que sorrir não era doloroso, senti saudades da garota que era feliz, senti saudades da garota que se perdeu em meio a um emaranhado de dor e mágoas. Sempre foi fácil analisar os outros, mas me analisar doeu muito, foi difícil perceber o quanto havia destruído a mim mesma. A tristeza e a dor, trazidas por um adeus transformaram em preto e branco os meus sorrisos, a minha vida tão colorida e tão alegre...
Eu sinto falta da alegria de sorrir!
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